terça-feira, 3 de maio de 2011

protocolo

ao abrir a porta do elevador vê o homem trabalhando e pelo chão
tintas pincéis instrumentos diversos mas ele não parece perceber
sua presença ou prefere ignorá-lo e isso é irritante então é preciso
mesmo dirigir-se à escada pensa são cinco andares mas não
há alternativa e agora nova contrariedade surge pois a passagem
está parcialmente impedida por tábuas e carpete descolado o que
exige manobras de contorcionismo para esgueirar-se sujando a
roupa com risco de uma queda no piso escorregadio enquanto
reflete sobre o quanto é absurdo sujeitar-se a tantos percalços
para chegar ao departamento adequado sem certeza de que será
atendido enfim vence cinco lances da estranha escada até a imponente
porta de acesso impedida por pesada escrivaninha o que
o obriga a rastejar pelo solo áspero de sujeira acumulada quando
enfim penetra no salão despido de móveis apenas com inúmeros
guichês todos vazios até o fundo onde o espera o gabinete im
pessoal porta aberta e no centro uma gigantesca mesa de mogno
na cadeira escura a mulher muito pálida que o examina de alto
abaixo e afivela ao rosto o sorriso exato para perguntar-lhe o que
deseja e ele suspira aliviado já esquecido de todos os obstáculos
afinal alguma atenção embora não exista onde sentar-se explica
a ela que já preencheu os requerimentos necessários anexando
as certidões exigidas e os relatórios manuscritos em três vias fazendo
jus à liberação dos insumos por ter atingido a maioridade
há mais de vinte anos e ouve dela de pé braços cruzados que
tais pedidos costumam ser analisados pela comissão competente
desde que acompanhados do laudo de sanidade e atestados de
ideologia tudo é claro vinculado à estabilização do superávit primário
mas o processo será despachado sem nenhuma dúvida no
último trimestre do próximo ano bissexto mediante apresentação
do protocolo rosa